Corte.

Postado por Rhaiza Oliveira , segunda-feira, 8 de outubro de 2012 16:29


Não consigo dormir. No último minuto de lucidez pré-sono, me arranho, viro, esquento, esfrio, planejo, retrocedo, mas nunca esvazio. Estar todo o tempo preenchida, bater do relógio, ponto de ebulição, palavras engasgadas, luz sitiada, pensamentos condenados.
O que entorpece é o segredo. Os pensamentos solitários, as cenas de filme que passam pela cabeça, tudo que eu poderia ter dito e não disse, e tudo que eu poderia falar, confessar, execrar, vomitar palavras e expectativas erradas, fora de hora, apressadas.
A rapidez assusta, a intensidade assusta, prende, arranha. Eu poderia escrever nos muros os segredos, as vontades, as noites em claro que eu passei tentando encontrar um sentido qualquer para manter tudo escondido, disfarçado e mascarado com sorrisos estranhos e borboletas no estômago.
Está tudo revirado. Mil rostos, expressões, palavras jogadas ao ar pra confundir, encantar, amedrontar, me fazer parar. A afobação fazendo com que a percepção da certeza seja incerta. Será verdade? Ou será mais uma alternativa da vontade de querer rasgar-se, fundir-se, quebrar o gelo da tua casca dura? Da minha casca dura...
É tão cansativo suportar os murros de passados não esquecidos, que parecem tornar-se presentes a cada vez que eu me aproximo. O eterno questionamento... Valeria a pena tentar de novo apenas pelo prazer do gosto de sangue na boca? A violência dos teus passos e a sutileza dos teus gestos me deixam numa montanha russa de medos, incertezas e prazeres não revelados.
‘Preciso poder explodir nosso big bang sempre que for necessário um novo começo, ou até mesmo pelo prazer da novidade. Poder errar e não me esconder, não ter que ter nenhum poder e poder não ter. ’
Eu não poderia estar mais certa de que a queda seria gigantesca. E eu não me arrisco a voar nisso. Mas a vontade de explodir e poder revalar me bate, me chuta, quer sair da pele como um monstro. Mas o desejo é uma desordem, um ‘mãos ao alto’, um ‘fique onde está’. Não resta nada a fazer além de me recolher, me calar e observar de longe todas as minhas divagações sobre o poder da vontade. Querer e não poder, não querer, pensar em querer, arriscar-se em querer já é punição demais.
E os segredos que eu poderia pichar no muro das ruas pro gelo derreter, não atingirão você...